Agora ou nunca (por Mauro Jácome)

98 - 25092013 - Agora ou nuncaNas últimas horas, um grupo representativo de jogadores reagiu ao insano calendário apresentado, pela CBF, para o futebol brasileiro no ano de 2014. Parece que, finalmente, acordaram e resolveram pensar além das tatuagens, brincos, correntes, coloridos fones de ouvido, carrões, baladas e garotas.

Esse movimento, ao se indignar com a maratona imposta para os jogadores dos principais clubes do Brasil, vai muito além do número de jogos por temporada. Traz à tona outras discussões diretas ou acessórias ao problema: o inchaço dos estaduais, o baixo público nos estádios e o horário dos jogos. Se for sério e não somente midiático, poderá iniciar uma revolução com a implantação de medidas de curto, médio e longo alcance.

A quantidade de partidas de um jogador que pode disputar todos os campeonatos do ano (Estadual, Libertadores, Copa do Brasil, Brasileiro, Copa do Mundo e Mundial Interclubes) gira entre 80 e 90 na próxima temporada. Isso sem considerar amistosos dos times ou da Seleção Brasileira. Esses jogos ficarão imprensados em dez meses para os clubes. Para o time do Felipão soma-se mais um mês, o da Copa. Só para comparar, na temporada 2013/2014, Neymar poderá jogar 60 e alguma coisa, caso seu time e a Seleção cheguem longe nos torneios a disputar. Claro, deverá ser poupado em várias partidos pelo Tata Martino.

Tamanha é a falta de bom senso no arranjo do calendário, que se joga futebol no Brasil por jogar, sem compromisso com o espetáculo em si. O importante é realizar todos os jogos de todos os campeonatos e nos mesmos moldes que, há anos, vêm se mostrando inadequados. Mesmo que tudo seja deficitário financeira e esteticamente.

Será que ninguém fez, pelo menos, umas continhas “de mais e de menos” para saber o quanto esse calendário ajuda a jogar mais terra na cova do nosso futebol? O que a CBF está querendo? Aonde ela quer chegar? Não acredito que a cúpula pensante não esteja vendo o quanto declinam os indicadores ano a ano. Então, o que tem por trás quando apertam mais a corda no pescoço dos protagonistas?

Houve, ainda, pouca manifestação dos clubes, mas são tão interessados quanto os jogadores. No entanto, se já é difícil a união dos jogadores, imaginem a dos dirigentes! Porém, dependendo da extensão e, principalmente, do apoio da mídia, os clubes podem ser arrolados no processo de reconfiguração do futebol brasileiro.

Refiro-me à participação da imprensa como algo mais amplo do que, simplesmente, noticiar os fatos, além do cômodo criticismo recorrente. Penso que poderia, com sua inegável força, promover a discussão de propostas. Há na imprensa profissionais mais gabaritados do que muitos da classe dirigente. Workshops (o termo da moda), seminários e congressos podem ser patrocinados pelos grandes meios de comunicação. Talvez, tenham até a obrigação de se incluir no processo. Afinal, não estão lá altruisticamente, mas lucrando horrores com o nicho chamado futebol. Há, também, especialistas em mercado despontando a cada dia. Enfim, gente com capacidade para auxiliar quem cuida da organização do nosso futebol não falta. Basta a vontade política de todos os setores.

O movimento vem tarde. Muito tarde, mas apareceu e veio num momento apropriado. O ano de 2014 será ímpar (opa!) para o Brasil. O sucesso da Copa pode atrair muitos olhos ricos e ambiciosos. Para isso, é fundamental que o futebol doméstico esteja, no mínimo, apresentando vontade de reagir.

Os jogadores não podem parar ante os movimentos reacionários que virão. Que se mantenham firmes e, principalmente, unidos até conseguirem alterar o cenário. Pelo que conhecemos dos senhores feudais da CBF e dos clubes, devem estar irritados com tamanha “petulância”.

Lutem até o fim!

 

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @MauroJacome

Imagem: Bom Senso F.C.

Pré-revisão: Rosa Jácome

2 Comments

  1. Caro Mauro, vc é um lutador do futebol, como eu. Infelizmente não vejo com tanto otimismo essa luta dos jogadores. Apoio da mídia??? Muito difícil, se a Dona Globo é proprietária de todos os horários, cotas, jogos dos principais campeonatos e manda e desmanda. CBF ?? Refém das Federações. Federações ?? Refém dos clubes pequenos que precisam disputar partidas contra os grandes para sobreviverem. Clubes ?? Basta um clube grande receber um valor mais interessante da Globo (vide Timão)…

    ***…

    1. Simply, não é fácil. Enquanto não mudarem a equação de poder (ligas > federações > CBF) e os clubes não se unirem, as coisas piorarão continuamente. Ontem, ouvi num programa de rádio que a Globo informou que em 2015 não haverá jogos em janeiro. Globo informou? Fiquei na dúvida se o repórter queria falar CBF ou se estava certa a informação.

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