Vale a pena notar que times de sucesso têm um ponto em comum: uma liderança vigorosa, que pode estar dentro ou fora do campo. Uma liderança que motiva, que protege, que anima, que invoca os jogadores a dar o melhor de si nos jogos e que enxergue objetivos com clareza. Melhor ainda quando o líder é respeitado e é forte exemplo de dignidade e perseverança. Líder que seja do bem, que não desanima diante das derrotas, que se entrega nas partidas, que muda a atitude de um companheiro apenas com um olhar ou um gesto. Líder guerreiro!
Lembro-me do Didi, na Copa de 1958, na final contra a Suécia. O Brasil tinha a melhor seleção do torneio, mas naquele jogo os suecos fizeram 1×0 logo no início da partida. Os jogadores brasileiros sentiram o gol e deram sinais de desanimo. De imediato o nosso Didi, o Príncipe Etíope como era chamado por ser negro, alto e elegante, pegou a bola no fundo da rede, colocou-a debaixo do braço e seguiu altivo e com olhar firme para o meio de campo, onde a colocou para o recomeço da partida. A sua atitude mudou o jogo e o Brasil se sagrou campeão aplicando um sonoro 5 x 2 nos donos da casa.
Em 1970, Brasil e Inglaterra faziam um jogo parelho, disputadíssimo pelas oitavas de final. Em certo momento eis que a bola é centrada na área brasileira. Lee, o camisa sete da Inglaterra, sozinho cabeceia para o gol. Félix, nosso goleiro, faz uma defesa sensacional com a mão direita e salta para abafar a bola. Lee tenta pegar o rebote e chuta o rosto de Félix, que fica contundido. A turma do Brasil cerca Lee. Em jogada seguinte, Carlos Alberto, nosso eterno capita, entra duro em Lee para botar ordem na casa e dizer quem manda em campo. Talvez tenhamos ganhado o jogo nesse lance.
Nesses novos tempos vejo o Seedorf e o Juninho como belos exemplos de liderança positiva, capazes de transformar seus times e tirar deles mais do que o básico. Dão exemplos em campo e fora dele. Têm carisma e cultura, falam bem, se expressam com objetividade. Comportam-se como se espera deles, são exemplos de atletas e homens.
Há outros jogadores que lideram em seus clubes, mesmo não sendo tão expressivos ou completos. É o caso do Ronaldinho Gaúcho, que mudou completamente a atitude do Atlético Mineiro, levando-o inclusive à conquista da Libertadores. Já o Corinthians formou uma liderança de grupo, na qual dirigentes, técnico e jogadores se uniram e conseguiram ser campeões do mundo.
Sinto que falta essa figura no Fluminense. O Abel era um técnico amigo dos jogadores, mas não me parece que transmitia carisma. Fred é um líder não convicto e algumas vezes faz bobagens que minam a sua respeitabilidade. Não temos uma liderança capaz de empurrar o time, modificar uma partida ou uma tendência, tirar leite de pedra. Esse tem sido um ponto fraco do time, que, aliado a outras questões extracampo, explica de certo modo o nosso momento. Pagamentos atrasados, privilégios, erros de estratégia, dívidas e outros influenciam o grupo, desmotivam, tiram a fé e roubam energia.
É preciso tratar a cabeça para que o corpo funcione. Acredito que precisamos de muito mais além de treinar táticas e técnicas de futebol. E acho que nesse ponto o Luxemburgo pode ajudar o Fluminense, pois tem experiência e é capaz de contribuir para a construção de um grupo unido e focado em resultados. É o que precisamos para voltarmos a vencer e ser temidos. Vamos ver.
Panorama Tricolor
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