Quatro estações (por Walace Cestari)

As_quatro_estacoes

O inverno chegou. E trouxe o frio, a preguiça e certo ar de tristeza. Para o time que foi verão em todo 2012, a estação não trouxe bons ventos. O tempo da colheita passou, não há fartura. Falta dinheiro, sobram dívidas. Faltam vitórias, sobram defeitos. Os frutos que pareciam dourados, hoje parecem impróprios para consumo: uns porque murcharam, outros porque estão verdes.

Mas de verde também se pinta a esperança. E todo inverno passa, como esse há de passar. Logo, a primeira questão não é “se”, mas “quando”. E isso, em nosso caso, depende do trabalho. Essa é a principal herança dos tempos de escassez: aprender. Se nos minguam as vitórias, há de se descobrir a semear diferente. Há de se tirar uma lição de toda perda.

Perdemos cinco em oito. Há quatro rodadas acumulamos insucessos. Nossos triunfos passados de nada valem agora. O presente é uma foice a capinar memórias e troféus. Contemplamos durante todo este ano aquele passado da melhor safra de resultados que já tivemos. Esquecemo-nos de continuar plantando. Sem o suor não há vida.

Vivemos sete meses do mais longo outono, com toda a nostalgia e tranquilidade que nos permitia os soluços longos de nossas folhas mortas. Nossa grama ficou menos verde. Achamos que era outonal. Blasés, demos de ombros para a realidade fria que batia à porta. Pensamos ser algo passageiro. Não era. Não é. Estamos em um rigoroso inverno. E sem provisões.

Tal qual a cigarra, padecemos nossa própria fome. De Esopo a Fontaine, ignoramos os mais óbvios sinais. Pouca provisão, muita previsão, os males do Fluminense são. Dimensionamos errado nosso sucesso. E, como faustos, adentramos em nosso inferno. Em pleno inverno. Buscam-se culpados, como se isso agora fosse importante. Olhar para trás não ajuda a percorrer a estrada que temos à frente.

Avante, pois. À frente de tudo, devemos ter um comandante consciente do que padecemos. O frio parece ter feito mal ao nosso. É hora de mudar, remexer a terra e buscar o plantio de dias melhores. Porque depois de todo inverno, vem a primavera. Mas o inevitável não é sinônimo de comodismo. Não pode. Não deve. É o suor que melhor fertiliza o chão.

Pés nos chão. E descalços. Ou, como no passado, calcemos nossas velhas sandálias. Precisamos delas. Não temos a constelação de maior magnitude envergando três cores. As estrelas não alimentam nada mais que sonhos. Carecemos ter de volta os lavradores da grama. A inteligência de reinventar nosso próprio jardim. Afinal, o Fluminense tem a vocação da eternidade. Plantemos confiança e trabalho, é chegada a hora de fazer nossa própria primavera.

Walace Cestari

Panorama Tricolor

@Panorama Tri

Imagem: Legião Urbana, “As Quatro Estações”, 1989, EMI

3 Comments

  1. Credito a má fase aos erros individuais, nas cinco derrotas, quatro delas foram assim, uma maré de azar ronda o Laranjal, mas vai passar, tem que passar. Não podemos perder a confiança, principalmente o time, dá pra virar.

    1. Vivone:

      Otávio, essa sacudida do nosso técnico tá mais para uma cutucadinha bem de leve. Está muito aquém do que era realmente necessário.

      Estaremos novamente torcendo no domingo, mas temo receber novamente a sua mensagem ao final do jogo. Isso está virando rotina.

      Um abraço.

Comments are closed.