Ele é um dos maiores símbolos da história do nosso clube – dentro e fora de campo – e, se vivo fosse, completaria 82 anos hoje.
Mas quem disse que os ídolos morrem?
Ele não completaria, mas sim faz 82 anos. Ponto.
Telê veio das Gerais e já era um apaixonado pelo Fluminense. Nele, foi campeão do mundo e apelidado de “Fio de Esperança” – não desistia nunca de nenhum jogo. O vigor e a vontade em campo fizeram acreditar que, posteriormente, sua exuberante técnica era coisa de segundo plano – muito longe da verdade: foi um jogadoraço, só que priorizava o time em vez de si mesmo. Só não foi titular da seleção porque era barra disputar posição com Garrincha e Juninho Botelho, em tempos em que havia dez craques para cada vaga.
Terceiro jogador que mais vestiu nossa camisa nestes 111 anos (559 jogos), terceiro maior goleador nosso (165 gols). A verdade dos números fala por si.
A insensibilidade da dirigência fez com que Telê não encerrasse a carreira no clube que sempre amou. Veterano, foi para o Guarani, jogou no Madureira, fez um gol contra o Fluminense e chorou: ainda carregava o espírito de torcedor menino no peito. Mas passou. Virou treinador. E não poderia começar melhor em outro lugar. Forjado nas Laranjeiras, comandou o título dos juvenis em 1968 e venceu o apoteótico título de 1969, 3 x 2 no eterno vice, placar emblemático. Daí Telê voou: quando os campeonatos estaduais eram a prima donna do nosso futebol, só ele conseguiu ser um treinador campeão nos quatro principais conglomerados de futebol: Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. E, num tempo em que isso era raro, sempre e sempre fez questão de deixar clara sua condição de torcedor do Fluminense.
Em 1979, formando um maravilhoso time do Palmeiras que mesclava jovens jogadores com veteranos, fez história numa goleada por 4 x 1 contra a Gávea no Maracanã com 112 mil pessoas nas arquibancadas, pelo campeonato brasileiro. O alviverde não seria campeão, mas a partida selou o passaporte de Telê Santana para comandar a seleção brasileira numa de suas jornadas mais bonitas, embora sem o então tetracampeonato tão ansiado à época: 1980-1982. O Brasil não trouxe a taça, mas é difícil imaginar qualquer torcedor da minha geração que não tenha se encantado com as partidas do time que Telê montou – e prova disso é que trinta anos depois, ainda se fala muito daquele momento. Houve erros, mas os acertos foram muito maiores. Em 1986, o time já era envelhecido, outra história.
Durante muitos anos, Telê sempre sonhou voltar a comandar o Fluminense, mas aqui não é lugar para se falar da miopia dirigencial. Acabou vindo para um time em frangalhos em 1989, não pôde fazer muita coisa e saiu. Mas tudo tem seu tempo e o velho mestre ainda iria brilhar muito à beira dos gramados: foi para o São Paulo, foi campeão brasileiro, bicampeão da Libertadores e do Mundial de Clubes vencendo os poderosos Barcelona e Milan, cravejou seu nome na lista dos treinadores mais vitoriosos e calou os ignorantes que lhe chamavam de pé-frio. Seguiu a trajetória de outro gênio tricolor: Tim.
Em 2002, já bastante debilitado por problemas de saúde, Telê fez questão de estar nas Laranjeiras no dia do centenário do Fluminense e emocionou toda a torcida presente. Quatro anos depois, perdeu a batalha pela vida e seguiu o inevitável caminho que o poeta Gil tão bem descreveu. Uma pena: gente como Telê deveria viver mil anos em carne. Em espírito, é bandeira eterna das nossas arquibancadas e sentimentos. Viveu para honrar o Fluminense e é alvo de todo o nosso orgulho.
Para completar e ratificar, Telê é de 26 de julho.
É Fluminense para sempre.
Mesmo dia da torcedora tricolor mais importante da minha vida: minha querida mãe Maria de Lourdes, aqui ausente também apenas em corpo.
Nada mais a dizer.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
Belo texto.
Importante lembrar que foi o técnico do Galo em seu único título brasileiro, em 1971.
Lembro-me bem de um Telê que vi pela TV, ainda menino, em 1960, na final contra o América, quando fomos derrotados por 2×1. O gol do Flu, de pênalti, o primeiro da partida, nasceu de um chute de Telê na entrada da área, bola que tinha endereço certo, mas que foi interceptada com as mãos por um zagueiro americano, cujo nome não me lembro. Mas, tenho na memória toda a jogada: Telê estava caído na entrada da área, a bola veio em sua direção, o magricelo se levantou rapidamente, dominou a redonda e chutou alto, no ângulo. O restante vocês já sabem.
Telê, assim como Castilho e Preguinho, é um dos maiores ídolos tricolores. Feliz aniversário, Fio de uma esperança de que tanto precisamos nos dias de hoje.
Uma crônica perfeita, em homenagem do eterno velho mestre Telê……começar a sexta-feira lendo um artigo desses é de emocionar…..
St