1979 – Fluminense 3 x 0 Flamengo – Cristóvão
Este gol de Cristóvão não deu nenhum troféu ao Fluminense, mas deu um título: um dos gols mais bonitos em Fla x Flu. O garoto Cristóvão, vindo do Bahia, estreava naquele dia e, mesmo assim, não teve nenhum acanhamento em dançar na frente da zaga rubro-negra, deixar Manguito no chão e mandar um balaço no ângulo de Cantarele:
“O melhor técnico. A melhor equipe. Dois pontos na frente. Seis turnos consecutivos conquistados no campeonato estadual (lembrando-se do “campeonato especial”). Grandes craques. Time completo. Festa na imprensa. Este era o resumo do Flamengo na véspera da partida contra o Fluminense. Até o comedido Cláudio Coutinho afirmou o pleno favoritismo da Gávea no Fla-Flu, ganhando a humilde concordância do treinador Interino do Fluminense, Sebastião Araújo. (…) o Fluminense contava com as revelações do clube e a mística da camisa – em especial, mais uma vez o belo uniforme todo branco. Com tudo isso, casa cheia: 100 mil torcedores no Maracanã domingo. (…) No início do jogo, mais uma vez o Flamengo deu a impressão que seria absoluto (…). Mas, aos poucos, o Fluminense começou a explorar bem as brechas deixadas pelo lateral-esquerdo Júnior e, aos 35 minutos, numa bola mal-rebatida pela defesa e tocada por Pintinho, Rubens Galaxe acertou um chutaço no ângulo esquerdo de Cantarele. Antes do fim do primeiro tempo, Zezé cruzou, Robertinho tocou meio atrapalhado de cabeça na direita do ataque, mas houve a sobra para Pintinho que, com calma, também tocou de cabeça e a bola entrou no meio do gol, aumentando a vantagem. (…) No segundo tempo, o Flamengo sacou o então poupado Zico do banco para decidir a partida. (…) Então, foi marcado um pênalti contra o Fluminense e o craque da Gávea se posicionou para a cobrança: bateu no canto-esquerdo, com força, mas Paulo Goulart – o melhor jogador em campo – voou rasante e espalmou para fora. (…) O Flu continuou a dar as cartas e ainda haveria o golpe final: nos minutos finais, o jovem estreante Cristóvão, recém-contratado ao Bahia e que entrou em lugar de Cléber, deu um drible desconcertante em Manguito na frente da área – o zagueiro caiu sentado. A finalização foi uma bomba de pé esquerdo, no ângulo esquerdo de Cantarele.” – Paulo-Roberto Andel.
Esse jogo não foi marcante só pelo gol do Cristóvão, Paulo Goulart, goleiro do Fluminense, também deixou belas imagens na memória dos tricolores ao defender um pênalti do Zico. No dia seguinte, além da euforia pelo resultado e da exaltação pelo gol de Cristóvão, muito se falava do feito de Paulo Goulart:
Fluminense, de Marcos a Paulinho, uma tradição de grandes goleiros
“Num país em que os bons goleiros são uma raridade, a ponto de a CBD já ter pensado em criar uma escola para formar especialistas na posição, o Fluminense pode se considerar, sem favor algum, um privilegiado. Desde a época do amadorismo romântico, que consagrou o elegante Marcos Carneiro de Mendonça e Veloso como os melhores do país, até hoje, o Fluminense se transformou numa dinastia de bons goleiros que quase nunca tem de se preocupar com quem escalar para o gol, principalmente a partir de Castilho, o criador da famosa leiteria que acaba de colocar em evidência Paulinho Goulart, um jovem de 24 anos, em grande parte responsável pelo equilíbrio que o atual Campeonato Carioca acaba de ganhar”. (JB, 16/10/1979).
“Era uma tarde de Fla-Flu lotado, arrepiante. Às três da tarde, ninguém andava pelas arquibancadas lotadas do Maracanã que não os vendedores de refrigerantes, todos de branco, máquina de refresco às costas e capacetes: pareciam astronautas. Eu e meus onze anos, meu pai me guiava pela mão, o Flamengo já era o senhor supremo da imprensa. Fizemos um golaço num chutão do Rubens Galaxe, que meu pai achava um jogador “fraco” (hoje seria seleção brasileira inconteste). Depois o Pintinho fez um gol de cabeça, não lembro se o goleiro Cantarele jogava de verde ou azul. Dois a zero num primeiro tempo de clássico não era mole. Num dado momento, houve um pênalti contra nós. A torcida deles urrava como se fosse um século em campo. Zico foi para a bola, bateu baixo, Paulinho Goulart voou no canto esquerdo, mandou para corner, o time inteiro pulou em cima dele. Do outro lado, um silêncio de mil cemitérios. Ali ganhamos o jogo. Mas a cereja do bolo veio no fim: o garoto Cristóvão, que tinha vindo do Bahia, pôs o saudoso Manguito para bailar, não deixou pedra sobre pedra e acertou uma bomba no ângulo, do nosso lado. O nosso time todo de branco. Vencemos com autoridade. Foi a primeira vitória minha que me recordo num Fla-Flu. No dia seguinte, João Saldanha, gênio, escreveu que Pintinho e Paulinho foram dois monstros. Saldanha sabia tudo.” – Paulo-Roberto Andel.
1983 – Fluminense 1 x 0 Flamengo – Assis
O gol de Assis, em 1983, é um dos que arranca qualquer tricolor do plano terreno. Foi um gol que cravou no gramado do Maracanã uma imagem eterna para a história do Fluminense e do futebol brasileiro. Jorge Cury, flamenguista fanático, dono de uma das vozes mais poderosas do rádio brasileiro, narrou assim aquele gol:
“Bateu Júnior. A pelota pinta à altura da linha divisória do gramado. Entrou Ricardo, alivia de cabeça. Recupera Figueiredo, deu a Tita. Tita a Adão. Adão na esquerda para Adílio, jogou na frente. Entra, agora, o Aldo e o atinge. Aldo atingiu Adílio, mas já estava marcado, banheeeeeira do atacante. 45 e 15. Bola levantada agora para Assis, livre, tem condição, vai marcar, chegou, colocou, é gooooool. Goooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooool.
Asiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiissssss, camisa número 10. Quando eram decorridos 45 e meio da etapa final. Agora, no placarrrrrrrrrrrr: Flumineeenseeeeee (aquela chamadinha típica da Rádio Globo) uuuuummmmmmm, Assis, camisa 10. Flamengo, zeeeeerooooo”.
Uma das coisas mais “futebol” do Brasil é o Canal 100. Quem não se lembra daqueles momentos que antecediam uma sessão de cinema? Ou, então, não se arrepiou revendo memoráveis jogos de forma tão real? E o instrumental da música “Na Cadência do Samba”? E esse Fla x Flu de 1983, como não poderia deixar de ser, foi assim registrado:
Que bonito é… As bandeiras tremulando… A torcida delirando… Vendo a rede balançar
“Uma partida vibrante, mas disputada num clima de muito pouca cordialidade. Este é o Fla x Flu que decidiu o campeonato estadual de 1983. Como que possuídos de um flagrante espirito de decisão, cada atleta em campo dava tudo de si, afinal, quem não quer ser campeão?”
Que bonito é… A mulata requebrando… Os tambores repicando… uma escola desfilar…
“Na atuação do veterano goleiro Raul, um exemplo de segurança e experiência que fazia o Fla favorito nesta partida. Aqui um belo chute de Tita. Na etapa final, a mesma história: um domínio aparente do Flamengo, que procurava o gol de Paulo Vitor, mas falhava seguidamente nas conclusões.”
Que bonito é… Pela noite enluarada… Numa trova apaixonada… Um cantor desabafar…
“Assim, aos 45 minutos, numa escapada de Assis, a explosão tricolor, gol do Fluminense.”
Sou tricolor de coração… Sou do clube tantas vezes campeão…
“Já não havia tempo para mais nada. Num só minuto, o último da partida, o tricolor concentra todas as alegrias de uma campanha vitoriosa, pois, com toda justiça, o Fluminense é campeão de futebol do Estado do Rio de Janeiro.”
…unido e forte pelo esporte… Eu sou é tricolor…
Cai o pano. Assim era o Canal 100. Difícil de descrever.
“Na final de 1983 garoava fino, mas, perto do fim do jogo, a Torcida Tricolor não arredava o pé do Maracanã. Eu e meu amigo Kléber, ambos da Torcida Young Flu Niterói, olhamos um para a cara do outro e eu comentei que achava que o Flu faria um gol e ele concordou, de modo que resolvemos descer para a cerca a fim de acompanhar o gol de perto. Quando Delei lançou a bola para Assis e ela estava no meio da trajetória, olhei para o placar e ele marcava 45 minutos do segundo tempo, tendo pensado: Vai ser bom demais! Quando Assis tocou a bola para as redes e eu voltei para a realidade, estava numa enorme poça d’água, com outros tantos tricolores, mais felizes do que pinto no lixo!” – Alexandre Magno Barreto Berwanger, 50 anos, Historiador Tricolor.
“Eu gritava, alucinado, incontrolado, sacudia as grades da janela, irracional. Pulava. Voei para meu pai, que chorava. Abraçados não sei quanto tempo, se é que existia tempo naquele momento. Nem sei quanto tempo vivemos aquela catarse. Recobrado um mínimo de razão, via uma sala pós-batalha, os assentos do sofá no chão, o cinzeiro emborcado no tapete, o joelho sangrava, uma dor insuportável no corpo.” – Mauro Jácome – “Fla x Flu de pai para filho”, 2012, em comemoração ao centenário do clássico.
No próximo capítulo, continuaremos a reviver gols marcantes do original clássico das multidões.
Capítulo 1: http://www.panoramatricolor.com/101-anos-de-fla-flu-i-por-mauro-jacome/
http://www.editoramultifoco.com.br/literatura-loja-detalhe.php?idLivro=1184&idProduto=1216
Mauro Jácome
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Revisão preliminar: Rosa Jácome
EXCELENTE MAIS UMA VEZ… PARABENS MAURAO….
Vencer fra-Flu é normalíssimo!! Os mais importantes nós vencemos.
Se não engano-me, o único importante que não vencemos, foi a decisão de 1963.
ST4!
1979: FALTOU A FOTO DA CAPA (TÍTULO PRINCIPAL) DO JS NA QUAL MÁRCIO BRAGA ACUSA A FLAGAY PELA DERROTA!