Parabéns, Gilberto Gil (por Paulo-Roberto Andel)

Ç3Há pouco mais de dois anos, precisamente março de 2011, tive a oportunidade de entrevistar um de meus maiores ídolos: Gilberto Passos Gil Moreira. Era ocasião de um projeto que ainda tenho que finalizar com amigos queridos. Naquele dia, estavam comigo Raul Sussekind, Leo Prazeres (PANORAMA) e o fotógrafo Max Sodré (da Absolut Models, nossa parceira).

Algumas coisas me marcaram para sempre.

Primeiro, quando você percebe que o teu ídolo é realmente uma pessoa legal. Gil foi simpaticíssimo conosco, tocou violão e cantou antes da entrevista – enquanto nos deliciávamos com seu show particular. Ah, e tinha duas entrevistas por telefone com rádios europeias a respeito da excursão internacional que faria em breve – e nos perguntou: “teria como vocês esperarem só uns dez ou quinze minutos pra gente começar?” – ora, ficaríamos ali mês se fosse preciso! Aliás, todo mundo era legal no estúdio Geleia Geral: Meny Lopes – que marcou nossa entrevista -, Marcus Vinicius  – divertidíssimo assessor de imprensa -, Bem Gil – músico e filho do craque, rubro-negro que fez piadas e riu muito conosco -, Jorginho Gomes – um dos maiores bateristas do Brasil e irmão de Pepeu. Todo mundo rindo, brincando, como se já fôssemos da casa, tudo muito distante das subcelebridades das manchetes rasas.

Quando começamos a gravar, embora nem parecesse uma entrevista, é claro que fiquei nervoso. Depois acalmei, mas o início foi brabo. Mesmo já tendo entrevistado gigantes como Maria Bethânia, Ivan Lins, Fagner, Sérgio Britto e Ítalo Rossi, todos meus heróis, o fato é que gelei.

Acontece que Gil está em minha casa desde que eu era criança. Gil é Gil.

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Lembro da explosão de canções como “Refazenda”, “Palco” e “Realce”, todas de décadas atrás. Imagine a emoção que eu senti em 1988 quando Gil fez um show gratuito na minha amada praia de Copacabana e, num momento, puxou “Copacabana” de Braguinha e Alberto Ribeiro, 1947: “Copacabana, princesinha do mar/ Pelas manhãs tu és a vida a cantar/ E à tardinha, ao sol poente/ Deixa sempre uma saudade na gente/ Copacabana, o mar eterno cantor/ Ao te beijar, ficou perdido de amor/ E hoje vive a murmurar/ Só a ti Copacabana eu hei de amar.”

Não seria surpresa alguma atestar as melhores ideias de um grande artista, um intelectual profundo e sólido, um músico de talento incontestável, uma bandeira tricolor que tremula permanentemente nas arquibancadas da arte brasileira, um ministro de Estado por sete anos. A surpresa maior foi ver que Gil não é daqueles torcedores do Flu que apenas veste a camisa em efemérides: conhecia os nossos jogadores da base; comentou sobre a necessidade de, no futuro, termos um time com mais jovens; apostou na afirmação de Wellington Nem como titular (à época, Nem poderia ter sido vendido) e que conquistaríamos outros títulos a seguir em sua opinião (a Libertadores não veio, mas o Carioca e o Brasileiro de 2012 foram muito comemorados). Foi algo tão marcante que, em minha crônica sobre os 3 x 2 contra o Palmeiras que nos valeram o tetracampeonato nacional, escrevi: “No bar, trocamos um abraço sem fim (ave Tom e Vinicius!), o abraço de um amor infinito que repousa de no coração de todos aqueles que têm no Fluminense o seu exercício de beleza, poesia, paixão e fé. A fé que não costuma faiá.” – alusão direta a “Andar com fé”, uma de suas canções que mais gosto.

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Num certo momento, caímos em mil gargalhadas de mil decibéis quando o jornalista Alvaro Doria perguntou se Gil, um dia, aceitaria ser ministro novamente caso Caetano Veloso fosse o presidente e o convidasse. Um clima de total descontração entre jovens repórteres anônimos e um baluarte da música brasileira que atravessou o mundo. Antes disso tudo, falamos dos tempos de futebol de botão, de grandes jogadores do passado como Lessa e Marito, do Fluminense que ele escolheu desde criança porque achava o escudo lindo e mil outras coisas – Castilho, Pinheiro, Telê, Didi. Uma tarde inesquecível de minha vida.

Gilberto Gil acabou de completar 71 anos de idade.

O Brasil e o mundo lhe devem muito como homem, pensador, artista e militante. É de um orgulho enorme que seja alguém das nossas três cores imortais.

Como é bom saber que um cracaço da história do Brasil é tricolorzaço e também um sujeito que vive tudo aquilo que exala em poesia, cultura e pensamento. Impressão e realidade andam de mãos dadas. O cara que escreveu “Parabolicamará” é o mesmo que tocou em Wight em 1970 ao lado de Hendrix, Doors e Who. Um monstro, um gigante!

Parabéns de sempre, Gil.

Vamos andar com fé – ela nunca há de faiá.

Ainda temos uma longa estrada pela frente – mesmo que haja um caminho inevitável para a morte, como você bem ensinou em “Cérebro Eletrônico”. Porém, o poeta é tambem preciso em versos como “mundo dá volta/ camará!”.

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Paulo-Roberto Andel

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagens: Max Sodré – Absolut Models

7 Comments

  1. Agradeço ao Paulo e Léo e a todos ,que puderam me proporcionar essa alegria.Como diz o Paulo vlw braxxxxxxxxx.

  2. Um dia histórico, como quase todos os desse projeto!
    Vamos coloca-lo de pé. É um compromisso conosco!
    E obrigado pela lembrança de sempre!
    Abraço do irmão mais novo,
    Raul.

  3. Olha lá vai passando a procissão,se arrastando que nem cobra pelo chão,as pessoas que nela vão passando,acreditam nas coisas lá do Céu.

  4. Interessante que hoje de manhã estava vendo um clip do show do Gil na praia de Copacabana no final do ano passado, antes da apresentação do Stevie Wonder.
    Também me fez lembrar de uma final entre o Flu e o Vasco, em 1973. Eu estava na arquibancada do Maracanã com um amigo vascaíno, cada qual torcendo pro seu time. No intervalo, jogo cheio, o meu amigo, que tinha se sentado a trás de mim devido a falta de espaço na arquibancada, desceu um degrau e veio conversar. Eis que alguém ocupou o lugar dele. Sem saber quem era, apenas havia visto um vulto tomar o lugar dele, comentei: Perdeu o seu lugar. O meu amigo olhou pra trás e disse: Esse pode! Era o Gilberto Gil. E quando o Flu fez 1 x 0, placar que foi até o final do jogo, o Gil deu uns tapas na cabeça desse meu amigo e caiu na maior gozação. Um cara realmente legal, merecedor da nossa admiração. Gostaria de ver uma música dele em homenagem ao Flu, no estilo de Aquele abraço (Alo torcida do Flamengo…aquele abraço).

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