Sinal amarelo para o futebol brasileiro na Libertadores. Palmeiras, Corinthians e São Paulo eliminados logo nas oitavas de final. Decerto a eliminação do São Paulo não foi surpreendente nem mesmo um baque para o futebol nacional, pois jogava contra o Atlético Mineiro que hoje tem um futebol bem superior ao time do Morumbi. Mas, a questão real que se coloca é entender a Libertadores sem ilusões.
O Palmeiras, por exemplo. A lógica colocaria, de fato, o Tijuana – campeão mexicano – como favorito no embate direto. O futebol mexicano há muito tornou freguesa a própria seleção brasileira e, em um confronto com um dos times rebaixados do Brasileirão, a balança penderia para o lado chicano, por certo. Entretanto, o jogo na América do Norte sugeriu que o Palmeiras fosse capaz de uma superação. O empate no jogo de ida deu tranquilidade e foi comemorado como bom resultado pelos palestrinos.
O Corinthians, por sua vez, tinha um adversário mais tarimbado na primeira fase de mata-mata, o Boca Jrs. O time argentino é, hoje, um arremedo do que já foi outrora. No ano passado, quando nos eliminou, já não era tudo isso e, graças a uma ajuda da arbitragem em Buenos Aires e a um lance fortuito no Rio, conseguiram passar por nós. Ainda assim, a camisa tem tradição e a Bombonera assusta. A derrota de 1 x 0 não foi vista pelos corinthianos como irreversível, por isso nem tão lamentada, tanta era a certeza da superioridade do time paulistano sobre o bonaerense.
Veio a volta. E a Libertadores mostra porque é um campeonato diferente, em que elenco não é suficiente e em que vantagem é letra morta. O Palmeiras precisava de uma vitória simples, diante de sua torcida. Em que pese o time do Tijuana ser melhor tecnicamente, a vantagem de jogar em casa pesaria. Daí, em um lance casual, um frango clássico do goleiro, tudo vai por água abaixo. O desespero toma conta do time, falta poder de reação, o fantasma do fracasso volta a assombrar time e torcida. Resultado: eliminação.
E o mesmo palco da tragédia verde serviu à reprise em preto e branco. O Corinthians tem hoje um dos melhores elencos do país (senão o melhor), uma equipe consistente, tarimbada e campeã; aquilo que chamamos de “time cascudo”. Pois bem, não bastou. A equipe de São Paulo correu, tentou, pressionou, teve mais posse de bola, mas não furou o bloqueio de um limitado mas aplicado Boca. Aguerrido como sempre, catimbeiro como esperado. Alguns erros da arbitragem e vem o desespero. Um gol sem querer do velho Riquelme (a imprensa dirá que a genialidade do argentino viu Cássio adiantado) e pronto. O time maduro e cascudo tornou-se a pura imagem da precipitação e da ansiedade. Resultado: eliminação.
Não há de falar-se apenas nos brasileiros: nosso querido coirmão Vélez, sofreu do mesmo mal. Após vencer fora de casa o conterrâneo Newell´s Old Boys (e isso lá é nome de clube de futebol?), achou que a classificação eram favas contadas e, dentro de casa, foi surpreendido pela zebra. A Libertadores é uma competição vingativa, que pune cruelmente a racionalidade do favoritismo ou a empáfia da vantagem.
O Grêmio que não imagine ter sua classificação encaminhada. Luxemburgo que não abra o olho para os colombianos do Santa Fé! O time tem feito boas apresentações e achar que a categoria do futebol nacional é suficiente é o primeiro passo rumo à eliminação. A soberba parece que vai aos poucos atacar o Galo, que não parece ter preocupações com os adversários. Quanto mais um time vence indiscriminadamente, pulveriza adversários, mais próximo se torna das grandes tragédias.
O Fluminense deve aprender com os exemplos alheios. E Abel parece estar atento a isso. Deixemos a imprensa de lado, as análise espetaculares fora das Laranjeiras e calcemos de vez aquelas nossas velhas sandálias da humildade. Não importa se a fase técnica de qualquer dos nossos jogadores não é boa. Não é isso que importa. Este é um campeonato que não exige atletas, mas Guerreiros. Libertadores não se ganha na arte. A América se conquista com o coração.
Walace Cestari
Panorama Tricolor
@PanoramaTri