Perdemos (por Walace Cestari)

WAGNER

Perdemos. Festa em muitas redações de jornais. Perdemos. A imprensa amaldiçoa o Fluminense. Perdemos. Chamarão de duvidoso ou polêmico o pênalti que jamais existiu. Perdemos. A festa dos adversários. Perdemos. O dia de hoje amanhece com um arco-íris feliz no Rio de Janeiro. Perdemos. O time nunca foi isso tudo. Perdemos. Abel não é um bom treinador. Perdemos. O elenco não é tão forte para uma Libertadores. Perdemos. Os tricolebas tinham razão. Tudo porque, simplesmente, perdemos.

O jogo não foi bom. Não dá para dizer que o Flu tenha feito um bom jogo, porque não fez. Teve seus bons momentos, mas oscilou demais durante a partida. A pressão da torcida parece ter surtido efeito no início do jogo, quando, completamente dominado, o time apelava apenas para chutões, facilitando o trabalho de uma insegura zaga equatoriana.

A primeira finalização só veio aos 24 minutos, em uma cobrança de falta de Wagner, que acertou a trave. Nessa altura, Edinho já havia virado o terceiro zagueiro e a preocupação era maior em deter o adversário que marcar gols. E a aflição parecia fazer sentido: aos 32, em falha de marcação – frouxa demais para quem se posicionava na defesa – a bola encontrou o jovem Vera livre pelo bico da área que cruzou e contou com o desespero de Leandro Euzébio. Uma pixotada dantesca de nosso zagueiro que, mesmo sem ser pressionado, precipitou-se e colocou a bola contra nossas redes.

O gol contra poderia ter acordado o Tricolor, mas não fez. Também não jogou o Emelec todo ao ataque, apesar de mais organizado. O Flu foi melhorando um pouco e em boa jogada de Carlinhos – a principal opção ofensiva do time no jogo – Wellington Nem chutou forte, mas em cima do goleiro adversário. Aliás, Nem não fez outra boa partida. Desde sua volta ainda não acertou o tempo de bola e tem parecido um tanto reticente na hora de partir para cima dos marcadores. Há de ser na próxima, esperamos.

E, quando já nem o suor escorria, Jean transformou-se na flecha vertical que sempre foi. Avançando como um soldado em conquista de território, um ávido caçador de espaços, corre por cinquenta metros do castigado gramado equatoriano, encontra Rafael Sobis que, com visão de poucos, inverte o jogo e, tal qual diretor de cinema, faz entrar em cena quem nem na tela estava: Carlinhos aparece livre pela esquerda e ajeita para Wagner fuzilar com artilharia pesada o ângulo da meta adversária. Balança a rede. Era o empate. Bem na hora.

Veio o segundo tempo e, com ele, a autoridade de campeão brasileiro. O Flu pôs a bola no chão e passou a trocar passes, porém faltou objetividade. Diante de uma forte marcação, carecemos de certa inspiração de nossos jogadores. Rhayner, mesmo com a aplicação habitual, não estava tão bem tecnicamente e deu lugar a Thiago Neves – que, mesmo sem ritmo, fez boa apresentação. Logo depois, após sucessivos erros de passe, era Wagner quem dava lugar a Felipe.

E o Flu foi senhor da partida durante bom tempo da segunda etapa. Só não foi incisivo. O Emelec perdeu-se no jogo mas, a partir dos 25 minutos, as equipes passaram a atuar em uma louca gangorra de erros de passe, contra-ataques e finalizações desorganizadas. Longe de deixar o jogo emocionante, isso criou uma preocupação permanente nos torcedores de ambos os times. O Flu errava passes em demasia e, em um contra-ataque, Cavalieri foi mais uma vez Cavalieri para evitar o tento adversário. De nosso lado, Nem dominou mal uma bola limpa na área e desperdiçamos uma chance de gol. Samuel logo entraria em seu lugar, mas pouco apareceu.

E foi aí que o Sobrenatural de Almeyda (com y porque esse falava espanhol) resolveu envolver-se no placar. Em pênalti absolutamente contestável, que passou invisível pelas câmeras de tevê em todas as suas repetições, o time da Light do Equador decretou o 2×1. Por pouco. Pois Cavalieri quase nos salva mais uma vez.

Poderia contestar o pênalti e chorar o nosso leite derramado pela arbitragem, mas não perdemos por isso. Ou não só por isso. Tivemos o controle do jogo durante boa parte dele e não fomos tão agressivos quanto podíamos. Eis uma daquelas derrotas das quais se tiram valiosas lições. Mais ainda: nos imputa um desafio. E nada é melhor para essa equipe que a contenda. Melhor que seja uma derrota nesses termos. Teremos um jogo de volta sem a euforia insípida dos antitorcedores. Teremos, no jogo de volta, os quinze mil de sempre, que entrarão em campo junto com os guerreiros, para fazer valer uma classificação que já estava escrita há duzentos anos. Afinal, nosso nome estará gravado na taça ao final, já disse isso. Perdemos um jogo. Não perdemos o que somos. Derrota para pintar com cores fortes a próxima vitória. E assim será.

Walace Cestari

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: Ricardo Ayres – Photocamera

3 Comments

  1. “Dois a um” é pouco pro Emelec se classificar! Time fraco! Passaremos!

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