No último dia 10 (de dezembro de 2014, portanto), veio a falecer um dos clubes de futebol mais prósperos do Brasil: a Unimed Futebol Clube. Gêmeo siamês do mais tradicional clube de futebol do país, o Fluminense Futebol Clube, a Unimed não resistiu ao tratamento que antecede a separação e rompeu o laço com aquele cujo coração a alimentava. Simplesmente morreu e, provavelmente, não mais ressuscitará, pois esse dom é exclusivo do gêmeo sobrevivente.
O processo que conduziu à separação foi realmente marcado por complicações. De um lado, o gêmeo tradicional, o Fluminense, portador do coração que alimentava ambas as cabeças, mas desprovido do controle das pernas mais ágeis do corpanzil bizarro, temia pelo andar de Carlitos que poderia marcar sua existência pós-separação. De outro lado, a Unimed, controlando as pernas mais ágeis, mas com o cérebro entorpecido pela frustração da decadência econômica, fustigava seus órgãos a reagir contra o próprio irmão que os alimentava de sangue. Um a um, seus principais subordinados, Fred, Wagner, Carlinhos, Bruno, Sóbis e até Conca reclamavam daquele que lhes deu prestígio e dinheiro. É provável que alguns ou todos eles brilhassem em outro corpo, mas não com as regalias que a submissão ao gêmeo agora falecido lhes concedia.
A hora fatal, no entanto, não é momento de recordar defeitos, vícios, tristezas, mas sim de ressaltar qualidades, de agradecer pelos bons momentos, mesmo que eles tenham se tornado raros nos últimos tempos. Pipocam na imprensa do Fluminense, o gêmeo que sobrevive, agradecimentos de toda ordem ao gêmeo falecido e creio que sejam bastante sinceros. O autor desta nota de obituário gostaria de registrar os agradecimentos e lembrar que foram intensos os momentos de felicidade da coexistência de Fluminense e Unimed, ainda que sempre tivessem por antecedente uma tragédia, ou desaguassem em uma. A alegria de ver o melhor time do planeta jogar com a camisa tricolor no primeiro semestre de 2008 acabou no Maracanazo tricolor da Libertadores. A alegria da salvação de 2009 perdurou até 2010, mas foi antecedida por muito sofrimento. O êxtase de 2012 produziu o caos de 2013 e 2014. No balanço, emoções. Ao que parece, os tricolores pensam como dito na música: se chorei ou se sorri, o importante é que as vivi.
Ao gêmeo que fica, nossas melhores estimas. Que rapidamente encontre outras pernas (e outros bolsos) para caminhar, agora certamente mais leve. Que entenda que a liberdade que conquistou duramente agora implica responsabilidade. Que perceba que a oportunidade sempre abre duas possibilidades: sucesso ou fracasso. Que o passado recente não permite mais erros. Que a expectativa geral dos que o assiste de fora é de um naufrágio do tipo Parmalat-Palmeiras. Que sua tradição é contrariar as expectativas.
Em outras palavras, se quiser ser bem-sucedido, que seja você mesmo: não mais o Fluminense gêmeo da Unimed, mas o Fluminense eterno, dono de seu próprio nariz.
João Leonardo Medeiros