2008 x 2013 – II (por Paulo-Roberto Andel)

É possível que quem tenha chegado até estas linhas seja, essencialmente, quem comungou de minha crença no Fluminense neste 2013. A crença na vitória, na conquista, na ratificação do papel tricolor na história: o de protagonista.

Quem surgiu nas arquibancadas, como eu, nas indecisões do nosso time no fim da década de 70 viveu, sem dúvida, um caleidoscópio de emoções positivas e terríveis. Primeiro, alternância entre times mais modestos entre o grande campeão de 80 e o timaço do tri 83/85. Depois, o lento desmonte da equipe e anos de escassez, finais que resultaram em revés. Um brasileiro batendo na trave, depois outro. Veio 95 para ser o maior de todos, mas logo a seguir estupraram a alma do Fluminense e caímos rumo a um fim que, felizmente, não só foi rejeitado como serviu de lição para a nossa reconstrução.

Que times do mundo são capazes de ressuscitar depois de levarem cinquenta facadas e vinte tiros diante dos risos de um continente inteiro?

Poucos. E o Fluminense é um deles.

O aprendizado demorou mas veio.

Mais brasileiros batendo na trave, dois estaduais. Não tínhamos mais Assis e Renato em campo, mas Marcão honrou nossa camisa como nunca e ajudou a decidir mais duas daças para o Flu. Até que um dia finalmente voltamos à Libertadores. Alguém lembra como? Num passe de craque de Adriano Magrão para o vitorioso Roger.

Em dez anos, lutamos novamente contra o rebaixamento quatro vezes. Fluminense quatro a zero. O passado teve o lugar que merecia. Até ser duas vezes campeão brasileiro em três anos, nosso time lutou, sofreu e saiu com a força de quem sabe a hora de se superar. E quase foram três brasileiros, vide 2011 disputado até a penúltima rodada.

Por tudo o que eu já vivi em 35 anos de arquibancadas ininterruptas, eu confio no Fluminense. Eu acredito no Fluminense. Homens e nomes passam, o Fluminense permanece. E sempre acreditarei nos melhores e piores momentos.

Acredito no meu time porque nenhuma LDU apaga meu Paulo Goulart voando baixo no canto esquerdo em 1979, calando os pré-vitoriosos flamengos e deixando Zico cabisbaixo com o pênalti perdido.

Nem mil rebaixamentos apagam o passe de Ézio para Ronald, este a Ailton, dois dribles fantásticos e o chute para fora que Renato transformou no maior gol de todos os tempos.

Cinquenta anos sem títulos não pagariam Assis imortal em 1983 e 1984.

Quem viveu a linda cabeçada de Washington contra o São Paulo em 2008, maravilhoso réquiem para meu falecido pai, há de entender o que quero dizer.

Acredito no Fluminense porque vi Claudio Adão fazer um corta-luz contra dois adversários que bateram cabeça enquanto ele avançou livre e marcamos um golaço contra o Paysandu há 32 anos. E porque Gilcimar fez um golaço por cobertura e goleamos o Botafogo por 3 x 0 numa tarde chuvosa de 1982, quando os alvinegros eram favoritos e sonhavam com o título de um turno que só veio oito anos depois.

Acredito no Fluminense porque nossos grandes títulos vieram depois de sofrimentos. Quantas vezes não batemos na trave da Copa do Brasil até que ela veio? Quantas vezes não estivemos entre os quatro melhores do Brasil e o campeonato nos escapou por detalhes, até que ganhamos mais dois?

A camisa do Fluminense já fez Adriano Magrão lançar como um Didi e Aílton ser Garrincha por dez segundos que valeram um centenário.

Deixemos a dor da LDU com o ostracismo que lhe abrace. Cinco anos depois, eles não conseguem nem se classificar a uma fase de grupos da Libertadores. Pelo terceiro ano seguido, fato inédito em nossa história, lá estamos outra vez para trilhar os caminhos da América. Há um belo horizonte no caminho.

É muito difícil de vencer, todos sabemos. E, por isso mesmo, nos cai bem.

Muitos times têm o gosto de superar barreiras difíceis.

Nós, do Fluminense, somos diferentes. O que nos anima é a queda-de-braço contra o impossível. Foi assim que escrevemos 110 anos de uma maravilhosa história.

Muitos outros virão.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: globoesporte.com.br

Contato: Vitor Franklin

6 Comments

  1. Paulo comenta: Pessoal, todo o agradecimento de coração pelas palavras. ST5

  2. Sensacional!! Concordo com tudo o que vc escreveu, e como disse o Sergio Vellozo o Fluminense é um estado de espírito, é um inconsciente coletivo que nos leva a superar as coisas impossíveis.

    Saudações TRicolores

  3. Elogiar o teu texto, é como diria o grande Renato Russo: mais do mesmo!
    Texto com paixão, com alma, com tricoloridade!
    Pra cima do time da terra de Hugo Chávez!
    ST4!

  4. Caro Paulo:
    Sou um capixaba que conheceu o Maracanã em 68, acompanhando meu pai num FlaXFlu épico em que o rival abriu 1X0 com gol de Silva e o Flu virou pra 3X1 com atuação soberba de Samarone.
    Depois morei no Rio de 77 até 93 e frequentei a arquibancada ao lado da Fluminina enquanto o rival inventava a Fla-gay. Vi todos os jogos a que vocè se referiu, a maioria no campo. O Fluminense é um estado de espírito, uma abordagem especial do universo esportivo, que gera afinidades instantâneas.
    Conhecí seus textos a partir do T&G e acho que você representa bem o espírito tricolor. Isso não é pouco.
    Saudações tricolores.

  5. O Flu pode até ganhar 2 libertadores em seguida, mas eu trocaria por aquela de 2008!

    O Flu pode ser campeão do Mundo, mas o meu jogo da vida é o do Assis no último segundo no fla x Flu de 1983!

    ST!

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