Dois de julho de 2008.
Cinco anos depois, uma longa noite ainda não deu sinais de alvorada.
Mas apenas em sentido figurado. Hoje, ela serve apenas para reflexão.
No campo da realidade, mil e uma noites aconteceram e muitas delas foram a nossa felicidade.
Certa vez, meu amigo Raul Sussekind disse que deixou de acreditar nos deuses do futebol depois de 02 de julho de 2008. E eu compreendo.
A mais triste das vitórias deixou um vazio sem tamanho. Contudo, isso não significa nenhuma razão para se envergonhar.
Fizemos a maior festa da história do Maracanã e do Brasil num estádio de futebol, como sentenciou Juca Kfouri. Ninguém esquece daquelas lindas cores de sonho que tingimos dentro do estádio, país afora.
Era difícil, reagimos depois do jogo de ida no Equador e no 1 x 0 que sofremos logo de cara. Foi a grande partida da carreira profissional de Thiago Neves, nunca mais repetida.
E choramos. E sofremos. Houve um silêncio de morte. Mil mortes. Um milhão de mortes.
Quanta gente riu das manchetes ordinárias no dia seguinte?
Mas na vida nada é eterno, nem a dor. Da vida, nada se leva, cada dia é um dia.
Vergonha? Que vergonha?
Isso seria ridículo e não condizente com as tradições tricolores.
Não temos que ter vergonha do que lutamos com dignidade para conseguir e, por uma vírgula, ainda não se alcançou. Jogamos no campo. É melhor ainda não ter um determinado troféu do que tê-lo com asterisco ou ressalva.
Não há porque não falar disso. Não temos a vocação de apagar das fotos e da história quem nos contrariou de alguma forma. Isso seria desumanidade.
Sim, o soco na cara que o destino nos desferiu foi tão violento naquela final que quase as redações colocaram a cereja no bolo: o Fluminense vai cair de novo. E fizeram tudo para isso, a mesma perseguição midiática de outros carnavais.
Contudo, somos grandes demais para sucumbirmos como queriam.
Fomos duas vezes às cordas, 2008 e 2009, o Fluminense mostrou-se mais vivo do que nunca e rebaixou os capatazes da hipocrisia. Levantamos e alçamos voo. Impedimos dois descensos em campos adversários lotados – 2008, o São Paulo no Morumbi, precisando da vitória para ratificar o título, o que só aconteceria na semana seguinte; 2009, Coritiba no Couto Pereira, todos sabem o que foi.
Escreveu em linhas tortas, bem antes, o livro dos dias de 2010 e 2012.
E voltou várias vezes à América.
Ela ainda não nos sorriu como deveria. Ficamos no quase. Mas um dia o trocaremos pelo finalmente, como uma linda cronista escreveu certa vez. O finalmente ainda vai nocautear o quase, é lógico. Sabe aquele casal que nunca ficou junto, mas que, de alguma forma, certas nuances apontam para isso no olhar, na conversa, no carinho? É por ai. Um dia o Fluminense vai pegar a Libertadores de jeito e ela pensará: “por que perdi meu tempo em não ter feito isso antes?” Vai acontecer. E quando isso acontecer, os nossos jovens leões das arquibancadas vão rugir por uma savana africana inteira, um país, um mundo. E serão sempre felizes.
Dezembro de 2010 foi uma espécie de reencontro do Fluminense consigo mesmo, com o caminho de glórias que sempre teve. E 2012 foi a ratificação disso.
Sim, pensar naqueles pênaltis de 2008 dói. E dói muito. Mas a dor é menor do que a daqueles que urraram de morte com nossos gols imortais de Renato, Assis e Flávio, por exemplo. Há quem fale muito da LDU apenas para mascarar isso.
O Fluminense não foi à lona como tanto queriam: reinventou-se, redescobriu caminhos e aí está de novo na briga por mais um Brasileiro, mais uma Copa do Brasil, o começar de novo de um caminho longo que todos sentimos ser nosso de alguma forma, no momento que tiver de ser.
Miles Davis, o gênio do jazz, gravou em 1961 o álbum “Someday my prince will come” (Algum dia meu príncipe virá), pela última vez ao lado de John “Train” Coltrane. Uma alusão ao tema de Branca de Neve e os Sete Anões, 1937. E também uma brincadeira com sua esposa de então, Frances, na capa do disco.
Nós, tricolores, fazemos uma brincadeira com o título: “Someday our lovely queen will come” (Algum dia, nossa amável rainha virá). Ela se chama Libertadores, nos deu um enorme toco no passado, mas tem uma dívida de amor conosco que, não tenho dúvidas, será paga integralmente e com juros.
Tudo tem seu tempo. Afinal, quem espera, sempre alcança.
O nosso hino não tem falhado.
Convém confiar nos versos imortais de Lamartine. Ele tem moral.
Paulo-Roberto Andel
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
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O dia 2 de julho nunca mais será um dia como outro qualquer, para mim, pela avalanche de emoções deste dia.
Só de imaginar que o último dia 2 de julho estava chegando, ficava alterado emocionalmente.
Caro Andel,
Belo texto. Também tenho certeza de que um dia a Liberta virá. Temos que mudar alguns pequenos detalhes na equipe e na diretoria, a fim de que tudo fique azeitado para nossa gloriosa conquista.
Quanto a 2008, hoje, tenho a mais absoluta certeza de que só não ganhamos, em razão de que um canalha que atende pela alcunha de Hector “Metralha” Baldassi, corrompido que estava, nos roubou descaradamente, perpetrando um dos maiores assaltos da história do velho Maracanã.
ST, Luiz.
Foda foi ver que os melhores batedores de penalti do time todos erraram. Concordo com o Caldeira. Tínhamos tempo de sobra para investir numa melhor preparação. Isso vai ficar marcado para eternidade, principalmente o show de nossa torcida.
Renato Gaúcho é ídolo por 2005, mas graças a sua fanfarronice como treinador não ganhamos esta Libertadores.
Não seguiu o conselho da preparação física do Flu para ir com antecedência pra Quito, mas falou que não precisava! Tínhamos só o Fábio Maschredjian como preparador.
Consequência: tomamos uma trolha no primeiro tempo de Quito que nos custou a Libertadores!
Concordo plenamente. Eu ponho na conta do Renato, à perda
daquele título.
ST.
Essa noite fatídica vira e mexe volta, trazendo consigo sentimentos diversos.
Como merecíamos aquele título! Que partidas antológicas, que festa linda
que a massa tricolor proporcionou a todos!
Um dia à américa será nossa! Há de ser!
ST.
De fato este foi o jogo em que um estádio esteve mais ornado, bonito e festivo em todos os tempos. Nunca houve nada igual, nem aqui, nem no exterior. Nada!
A torcida tricolor transformou o Maracanã numa alegoria colorida, de beleza incomum. Fez do estádio também uma imensa concha acústica, que reverberou belos e afinados hinos e cânticos. Também ecoou o barulho dos fogos e refletiu as cores da bandeira tricolor. Magia pura.
Nunca vi nada igual. Nunca vi. Nada. Nunca.
Não fora o gol estranho no início do jogo, o Flu teria sido campeão. Faltou-nos a experiência que adquirimos nesses últimos anos. Hoje somos mais copeiros, mais tarimbados.
A nossa “queen” está chegando, se arrumando para as núpcias que a esperam com o Fluminense, com direito a Lua de Mel em Dubai. E cujo fruto do seu ventre será o Mundial de Clubes. Isto é certo, só resta saber quando. Espero que não demore, pois eu poderei estar dormindo. (Please don’t be long or I may be asleep – George Harisson).