1952: o ano do Fluminense mundial (por Rafael Bosisio)

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Como alguém que não assistiu ou vivenciou um título de tamanha importância pode se sentir orgulhoso? Como alguém pode se orgulhar de uma equipe da qual não assistiu a nenhum jogador em atividade? Esse sou eu! Essa equipe é o Fluminense campeão da Copa Rio de 1952! E a culpa disso tudo é da mitologia tricolor.

As histórias não assistidas são transmitidas oralmente pela memória e pelos textos escritos por quem assistiu a elas, criando, assim, os mitos. Eu não assisti aos jogos; li, sim, muita coisa que poderia escrever nessa crônica. Mas, muitas dessas histórias, muitas, mesmo, foram transmitidas por pessoas que viveram àquela época e assistiram a esse escrete lendário, como meu saudoso pai, “seu” Ney.

A Copa Rio de 1952 foi um torneio internacional que ocorreu entre julho e agosto, nos estádios do Maracanã e Pacaembu, dividida em dois grupos: o do Rio de Janeiro – Fluminense, Peñarol, Sporting e Grasshoppers – e o de São Paulo – Corinthians, Áustria Wien, Libertad e Saarbrücken. Dois times de cada grupo se classificavam para disputar dois jogos de semifinais e, depois, a final.

Na arquibancada do então recém-inaugurado Maracanã – onde se criaram os mitos, as lendas –, meu pai e muitos dos seus contemporâneos, tricolores fanáticos, presenciaram os feitos de uma equipe que vingou a derrota do Brasil em 1950 e foi a primeira equipe carioca a se sagrar campeã de um torneio internacional no Maracanã.

A escalação desse timaço por si só é lendária e repleta de ídolos – Castilho, Píndaro e Pinheiro, Jair, Édson e Bigode, Telê, Didi, Marinho, Orlando Pingo de Ouro e Quincas. Uma orquestra de craques, regida pelo Zezé Moreira – o mesmo que, meses antes, havia ganhado, pela seleção brasileira, o Pan-Americano de Santiago, com alguns desses jogadores. Desses onze jogadores titulares, como negar a lenda de reservas de luxo como Carlyle, Simões, o incansável Róbson, ou Vilalbos? Como negar a importância de Nestor na grande final? Numa época em que os europeus, ou o mundo árabe, não tomavam nossos craques.

O Fluminense conquistou a Copa Rio de forma invicta! Na fase de grupos, empatou com o Sporting, ganhou do Grasshoppers por 1 a 0, e obteve uma vitória imponente, por 3 a 0, sobre o Peñarol, então campeão uruguaio, que tinha a base da Celeste campeã de 1950. Além desses resultados, a equipe venceu duas vezes o Áustria Wien pelas semifinais do torneio, resultado que classificou o time para a grande final contra o Corinthians. Após dois jogos no Maracanã, sendo uma vitória por 2 a 0 e um empate em 2 a 2, o time ingressou na mitologia tricolor como o campeão invicto da Copa Rio de 1952.

Os dados e fichas técnicas estão disponíveis para consulta pela Internet afora, mais precisos que essa crônica. Mas, o que não é exato e nem racional foi o orgulho sentido pelo meu pai e por todos os outros, até mesmo torcedores de outros clubes. O Fluminense derrotou o fantasma de 1950 e sagrou-se campeão mundial em seu cinquentenário!

Torcedores em êxtase desciam as rampas do Maracanã. A alma estava lavada. Meu pai certamente estava feliz, e o Olimpo Tricolor contava com novos deuses para nossa mitologia!

1 Comments

  1. Meu pai, então com 14 anos, também foi a todos os jogos e me contou essa façanha tricolor inúmeras vezes desde minha infância. Ganhamos a Copa Rio, torneio que inspirou a Champions League, jogando sete partidas e não apenas uma como era no Troféu Toyota…

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